A pandemia nos convidou a mergulhar dentro de nós mesmos, revisitar sentimentos, memórias, um repertório sensorial que para muitos pode ser doloroso. Afinal, não é fácil abrir as gavetas da mente que muitas vezes bloqueamos, seja pelo dia-a-dia ou por autopreservação. Sob essa perspectiva, a Sala de Leitura “Interiores da Mente”, a convite da Conexão Decor, é uma metáfora da psique do arquiteto que, sem medo de se expor, mostra os ruídos mentais, ansiedade, crises existenciais que o último ano despertou de forma amplificada.
O hall de entrada apresenta uma complexa marcenaria de sobreposição de caixas e peças de antiquário que representam a nossa percepção de tempo e memória. Entre caixas, maletas, mesas e gavetas, os pontos de luz fazem as vezes dos impulsos elétricos que carregam as informações sensoriais nos neurônios e acessam os sentimentos.
Já na sala de leitura, um generoso pé direito com vãos em arcos, piso em mármore e paredes texturizadas nos remetem a um classicismo revisitado pela contemporaneidade. Ao contrário de uma tradicional sala de leitura ou biblioteca, onde livros estão sempre expostos, o projeto traz a provocação das gavetas, o movimento de abertura e de descobertas, assim como as nossas gavetas das memórias. O sofá de design autoral em formato curvo foi desenhado em contraposição aos ângulos retos da marcenaria, em sintonia fina com a poltrona, também autoral, que traz a transparência e fragilidade do vidro estampadas em um gradiente de cores.
Para o arquiteto, o espaço projetado é um lugar de organização dos pensamentos, do resgate aos relacionamentos familiares – como o banco “Fiote”, desenhado após o falecimento do seu pai, com três pés representando os filhos – e um lugar de cura através das artes “Luz”, de Shirley Paes Leme, e “Jardim Suspenso”, de Marcelo Tinoco.
Visualização 3D: MM Studio | Tatiana Miura
